#SurvivorGameChangers: o primeiro da Era Trump


No início dos anos 2000, quando o criador de Survivor anunciou uma adaptação do já bem-sucedido reality show com enfoque no mundo empresarial, muitos torceram o nariz. Chegaram a afirmar que o projeto não se sustentaria na transferência da “selva real” para a “de pedra”.

Mark Burnett, porém, mais uma vez, demonstrou uma visão à frente do seu tempo: The Apprentice não apenas se firmou com um sucesso midiático ao longo dos anos nos Estados Unidos, como também teve versões nos mais diversos países, inclusive o Brasil.

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Contudo, ao ser lançado, o reality show de negócios mostrou-se muito diferente de Survivor quanto à distribuição do poder. Enquanto no formato original, a maioria da tribo quem determinava quem deveria abandonar o programa, no novo a decisão final acabou nas mãos apenas do condutor do programa.

Assim, além das tarefas espinhosas que levam os participantes ao limite, os dois programas beneficiam-se do carisma de quem comanda o jogo. O sucesso imediato de Survivor fez com que Jeff Probst se torna um dos apresentadores (e por tabela produtores executivos) mais respeitos no mundo todo. Assim como o empresário Donald Trump, apesar de já ser conhecido em seu país por diversas controvérsias, ficou mesmo conhecido internacionalmente através do reality show.

Outro ponto em comum entre os programas diz novamente respeito a seu criador: ambos demonstram a capacidade de se reinventarem ao longo dos tempos. Apesar da fórmula de um reality e outro ser sempre a mesma (uma provação máxima, seguida de uma eliminação – ou mais – ao final de cada episódio), o fato de as temporadas buscarem sempre uma nova temática dá um refresco aos telespectadores.

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Nos últimos anos, The Apprentice americano abandonou o business e abraçou o showbusiness. Deixou de lado a proposta inicial de garimpar talentos no mundo empresarial e resolveu enveredar para o embate entre celebridades.

Enquanto isso, Survivor tem procurado equilibrar edições com novos participantes e com retornantes (que nada mais são do que os famosos deste universo). A 34ª. temporada do reality show de sobrevivência será uma edição ALL-STARS, porém, com outro nome. Com o mote de GAME CHANGERS, o  programa ofertará o reencontro do público com alguns dos seus favoritos de todos os tempos (alguns pela terceira ou quarta vez).

Na seleção dos “melhores” feita pelos produtores (entre os quais se inclui o próprio Probst), é possível notar, ao mesmo tempo, uma regularidade com casts (elencos) anteriores e uma certa subversão. Survivor é um programa para toda a família e, com o tempo, tem almejado ser uma representação da classe média do país.

É certo que já passaram pelo programa alguns participantes com muito dinheiro e que buscavam apenas “a aventura da vida toda”. E, embora os olheiros venham trabalhando muito nos últimos tempos para a inclusão de “gente bonita que quer ser famosa”, a maioria do elenco é de gente comum que quer o prêmio milionário.
fbfc21d109bb9ba0_surv34_cast_sandradiaztwine_1920x1080Para esta temporada, foram escolhidos três milionários, melhor ainda, dois homens e uma mulher que já ganharam o programa. Por motivos óbvios, as atenções iniciais das tribos devem se voltar sobre eles (aliás, especialmente sobre ela, que, na verdade, já foi coroada duas vezes). As dúvidas pululam: É justo que ganhem novamente? Qual deles será eliminado primeiro? Quem se aliará aos milionários para tentar conquistar o próprio quinhão?

Assim, além da sanha natural dos participantes que os tornou dignos retornantes, soma-se subliminarmente a curiosidade em ver como resolverão questões de ordem moral, econômica e social. De certa forma, o que vier nos episódios da próxima temporada demonstrará muito sobre o que a “América” pensa sobre si mesma. Ou melhor, o que aquele grupo de representantes da população acha ou não justo fazer.

Gravada no meio de 2016 (entre junho e junho), #GameChangers será a primeira da Nova Era à qual os Estados Unidos serão submetidos com a eleição de Donald Trump. Não deixa de ser irônico que o mesmo produtor que o lançou ao estrelato e que, por extensão, lançasse a sementinha para que ele chegasse à Casa Branca oferta ao público o elenco desta edição.2bd1c5e7e8f64b48ae91d92f29ab5a92_r

Enquanto Trump estimulava a competitividade desmedida e premiava a produtividade e a criatividade, Probst sempre deixou clara sua idolatria por machos alfas (caucasianos ?), de meia idade. As predileções de um e outro, de certo momento, espelham-se.

O primeiro detinha a palavra final e submetia todos às suas mudanças de humores no reality (não muito diferente do que quer fazer agora na presidência do país). O segundo, mesmo tendo que acatar a decisão dos votantes, sempre usou e abusou dos jogos de palavras, das caras e bocas e da forma de conduzir as provas (levando alguns participantes ao limite do estresse) para que, de certa forma, sua vontade fosse “ouvida”.

Neste sentido, é impossível não pensar em como entram em choque a imagem do presidente eleito (e no modo como ele estimulava a competitividade no próprio reality) e a configuração do elenco escolhido, no qual figuram negros, latinos, gays assumidos, imigrante, mãe solteira e toda a sorte de minorias que foram atacadas por Trump durante sua candidatura.

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Se a polêmica foi instaurada no país em #CookIslands (da qual Ozzy é egresso) por que os participantes foram divididos em 4 tribos por etnias (negros, asiáticos, latinos e caucasianos) e, segundo alguns, isso feria o pressuposto de igualdade, como reagirá o público diante dos #GameChangers? A nação que legitimou a plataforma excludente de seu novo comandante aprovará a decisão do grupo de pessoas que os representa ou será este grupo que representará a celeuma que se alastrava pelo país quando saíram para gravar a nova temporada?

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Se a meritocracia (logicamente elitista) apregoada por Trump fosse aceita tacitamente pelo elenco de #SurvivorGameChangers, aqueles que já venceram deveriam ter privilégios, não? Acredito, entretanto, que pesará no inconsciente coletivo a necessidade de fazer justiça. Aquela que, segundo alguns, não era feita enquanto o país (em crise?) estava sob o comando de Obama! Será que teremos uma divisão à la #WordsApart?

Prevejo que esta temporada será sem igual e que muitas polêmicas estão por vir! Vem, #SurvivorGameChangers, vem!